Os exames de imagem
cardiológicos são uma verdadeira obra de arte. Cada vez mais estão
desenvolvendo tecnologias para melhorar a imagem cardiovascular, trazendo-a o
mais próximo da realidade possível. Um exemplo disso é o ecocardiograma, exame
complementar não-invasivo de diagnóstico, de avaliação de gravidade, de
planejamento terapêutico e de estratificação prognóstica utilizado em quase
todas as patologias cardíacas. O conceito técnico básico deste exame é utilizar
um transdutor que gera ondas de ultra-som (alta frequência, acima dos níveis de
audição humana) e que capta as ondas que refletiram e voltaram. Sendo que
quanto maior a densidade de um meio, maior sua capacidade de refração do som, o
aparelho consegue transformar assim os diferentes graus de refração do som em
imagens do coração com detalhes sobre o mesmo, como tamanho, espessura, forma,
modo como válvulas e câmaras estão trabalhando. Além de ser capaz também de
identificar se alguma área do músculo cardíaco não está funcionando adequadamente
por baixo fluxo sanguíneo ou lesão resultante de ataques cardíacos prévios.
É um exame muito utilizado na investigação de sopro
cardíaco, presença de palpitações, síncope, falta de ar, dor torácica, infarto
do miocárdio, insuficiência cardíaca, doença das válvulas, anomalias congênitas,
entre outras. Por não possuir efeitos colaterais e ter relativo baixo custo,
facilidade de transporte e operacionabilidade, o ecocardiograma se tornou um
dos exames mais pedidos da atualidade.
Assim como no mundo das artes,
que há diversos modelos e sistemas de acordo com as experiências da época, a
ecocardiografia mudou muito nas últimas décadas, criando diversas modalidades
de geração de imagem, cada uma com um tipo de indicação clínica específica.
Neste contexto, um dos últimos desenvolvimentos na área foi a utilização de
contraste neste exame de imagem.
O ecocardiograma contrastado consiste no uso de agentes
de contraste à base de microbolhas injetados por via endovenosa periférica para
melhorar o sinal ecocardiográfico. O mecanismo primário pelo qual a injeção de
microbolhas contrasta as diferentes estruturas cardíacas é decorrente da
introdução de múltiplas interfaces gás-líquido na circulação, levando ao
aumento da reflexão do ultra-som e melhorando a qualidade das imagens
ecocardiográficas.
As microbolhas utilizadas atualmente são formadas por
envoltório proteico ou lipídico contendo gases de alto peso molecular em seu
interior, que lhes confere estabilidade suficiente para atravessar a barreira
pulmonar e contrastar as cavidades cardíacas esquerdas e a circulação
coronária. É um exame usado para melhorar a definição das bordas endocárdicas,
opacificação do ventrículo esquerdo (dados utilizados na avaliação mais adequada
da função contrátil global e segmentar do ventrículo esquerdo, e medidas mais
acuradas dos volumes ventriculares e fração de ejeção, permite também avaliar
presença de trombos, trabeculações, tumores dentro da cavidade ventricular,
além da avaliação de anormalidades do ápice, tais como pseudoaneurisma,
hipertrofia e abaulamento apicais), sendo aplicada a estudos em repouso ou sob
estresse.
A estabilidade dos agentes contrastantes na circulação
junto com a alta tecnologia colocou a ecocardiografia com contraste como uma
técnica segura e eficaz para avaliação da perfusão miocárdica. As aplicações
clínicas da ecocardiografia com contraste miocárdico incluem a avaliação de
pacientes com doença arterial coronária suspeita ou conhecida, a determinação
da área de risco e eficácia das terapias de reperfusão em pacientes com infarto
agudo do miocárdio e a avaliação de viabilidade miocárdica após o infarto
(identificação do fenômeno de no-reflow, caracterizado pela ausência
de perfusão microvascular apesar do restabelecimento da patência da artéria
coronária epicárdica; é um marcador de necrose miocárdica e é associado com
menor chance de recuperação funcional e pior prognóstico) e no contexto da
doença arterial coronária crônica (identificação de miocárdio hibernado, que
possui importância fundamental em pacientes com doença arterial coronária
crônica para definir seu tratamento adequado, uma vez que a cirurgia de
revascularização miocárdica pode resultar em melhora dos sintomas e diminuição
de risco para eventos futuros). Estudos recentes têm demonstrado que a análise
da perfusão miocárdica pela ecocardiografia com contraste miocárdico em tempo
real apresenta maior sensibilidade e acurácia para o diagnóstico de doença
arterial coronária que a análise da motilidade segmentar pela ecocardiografia
sob estresse. A quantificação do fluxo miocárdico regional e da reserva de
fluxo miocárdico pela ecocardiografia contrastada parece apresentar valor
adicional para estimar a gravidade da doença coronária.
Em conclusão, entende-se que a ecocardiografia com
contraste é um método não-invasivo, sem radiação ionizante, seguro que propicia
dados anatômicos cardiovascular, de fácil acesso e disponibilidade, com
resultados rápidos, boa relação custo-benefício e dispõe de repetidas
investigações científicas que ratificam o seu emprego na prática clínica, tanto
para melhor definição das bordas cavitárias como para estudar a perfusão
miocárdica. Por tudo isso, vê-se que não produz apenas imagens bonitas, mas
possui grande utilidade clínica, com provável aumento de realização deste exame
no futuro.
Espero que tenham gostado do texto e que
tenham se apaixonado por estas incríveis imagens assim como eu!
Boa noite,
Amanda Caon Morioka
Coordenadora da Liga de
Cardiologia da Unicamp
Referências:
Ecocardiografia com contraste.
Tem futuro? Cláudio L. Pereira da Cunha. Hospital
de Clínicas da Universidade Federal do Paraná - Curitiba, PR. Arq. Bras.
Cardiol. vol.87 no.2 São Paulo Aug. 2006.
Uso clínico da ecocardiografia
com contraste à base de microbolhas. Jeane
Mike Tsutsui; Wilson Mathias Junior. Instituto do Coração do
Hospital das Clínicas – FMUSP – São Paulo, SP. Arq. Bras. Cardiol. vol.88 no.5 São
Paulo May 2007.
Uso de Contrastes no Ecocardiograma em Repouso . 6 de junho de
2012. Lang, Ecocardiografia Dinâmica.
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