sexta-feira, 30 de maio de 2014

Intensidade do Sopro Cardíaco: 4+ ou 6+?

     No estudo da semiologia cardiovascular, deparei-me entre um duelo de conceitos, de um lado aqueles que defendem ferozmente que a intensidade dos sopros cardíacos devem ser classificados em até 4+ (falamos 4 cruzes) com a defesa de ser algo mais sintético e simples, do outro aqueles que acham tão natural que a intensidade seja em até 6+, que nem entendem o porquê do uso dessas tais simplórias 4+.

E no meio dessa disputa conceitual, fiquei no "e agora? qual é o mais adequado?"

[Para quem ainda não sabe o que é sopro, intensidade, cruzes..:
Sopros: são produzidos por vibrações decorrentes de alterações do fluxo sanguíneo que podem ser decorrentes de alterações hemodinâmicas e/ou estruturais dos aparelhos valvares ou das câmaras cardíacas ou vasos. Quando auscultamos um sopro devemos descrever: situação no ciclo cardíaco, localização, irradiação, timbre, tonalidade e intensidade (caracterizamos a intensidade em escala de cruzes de forma crescente e é daqui que a surge a discussão]

Iniciei uma busca simples na literatura, comecei pelos livros de semiologia, pelo clássico Porto & Porto Semiologia Médica (7ed.), e me deparei com as defendidas 4+ cruzes pelo grupo da semiologia:


Procurei no livro do Ramos Jr., chamado Semiotécnica da Observação Clínica (5ed.), e achei uma interessante ressalva após a descrição da intensidade em cruzes, que os convido a ler na imagem do livro abaixo:

Essa ressalva da existência de uma gama de valores intermediários e os erros decorrentes do seu uso sem maiores descrições do sopro, apresenta um ponto importantíssimo: descrição da ausculta cardíaca detalhada e que não se resume a intensidade, mas sim a todos esses parâmetros descritos por Ramos Jr e enumerados no início deste post. E será que na necessidade de agregar mais dados desses dois pontos, surge o uso maior das 6+?

A classificação em 6+ surge com Levine e ganha proporções após a publicação em 1933 com o colega Freeman intitulada "The clinical significance of the systolic murmur. A study of 1000 consecutive “non-cardiac” cases" que se utilizou da classificação em 6 graus dos sopros sistólicos:
Grau 1: sopro muito leve, dificilmente audível
Grau 2: sopro leve imediatamente audível
Grau 3: sopro moderadamente alto
Grau 4: sopro alto
Grau 5: sopro muito alto, audível com estetoscópio levemente encostado na pele do paciente
Grau 6: sopro muito alto, audível imediatamente após desencostar o estetoscópio da pele do paciente

Procurando literaturas clássicas da clínica, encontrei em um capítulo eletrônico do Harrison Principles of Internal Medicine intitulado Approach to the patient with a heart murmur também a indicação do uso da classificação em seis graus com pequenas variações:
Grau 1: sopro muito leve, ouvido apenas com muita atenção
Grau 2: sopro leve facilmente audível
Grau 3: sopro alto sem frêmito no foco de maior intensidade
Grau 4: sopro muito alto com frêmito
Grau 5: sopro muito alto, audível com estetoscópio levemente encostado na pele do paciente
Grau 6: sopro muito intenso, audível mesmo com estetoscópio desencostado da pele do paciente

    E continuando a busca nas literaturas clássicas da medicina e as publicações vinculadas ao Pubmed, encontrei a utilização maciça da classificação em 6+. Para citar duas de grande impacto, além da bíblia da cardiologia Braunwald's Heart Disease, a American College of Cardiology e American Heart Society em seus Guidelines for the Management of Patients With Valvular Heart Disease se utilizam na descrição das intensidades dos sopros cardíacos a classificação em 6+

Então vocês devem estar se perguntando "e os sopros diastólicos?" e "e para que se usa 4+?"

      Para os sopros diastólicos a maioria das publicações utilizam a classificação de 6+ também para os sopros diastólicos, como utilizado inclusive nessa publicação abaixo do JAMA, que teve como objetivo a revisão de evidências sobre a precisão e a acurácia do exame clínico para a regurgitação aórtica:

    No entanto, algumas universidades em materiais próprios ou cursinhos especializados em cardiologia, utilizam para os sopros diastólicos, a classificação em 4+! 
Isso mesmo! 6+ para sopros sistólicos e 4+ para sopros diastólicos! 
A única publicação que encontrei sobre essa metodologia foi desse livro chamado Pathophysiology of Heart Disease: A Collaborative Project of Medical Students and Faculty editado por Leonard Lilly:
      Depois de toda essa busca, percebi que há uma aceitação na literatura científica maior pelo uso da 6+ do que 4+, o que pode se justificar por mais valores intermediários para a refinamento da técnica semiológica e agrega mais elementos a sua descrição e o seu uso também permite uma melhor comunicação e análise de dados para a comunidade médica. 

        No entanto, o que fará maior diferença na sua prática clínica será uma boa execução da técnica de ausculta cardíaca, descrição completa de todos elementos auscultados e sua a capacidade de discutir sua avaliação e a correlação com a literatura científica.

E pergunto a vocês: qual é a classificação no seu serviço ou que foi ensinada na semiologia ou internato?? E qual a sua preferência??

Elayne Oliveira
Presidente da Liga de Cardiologia da UNICAMP

Referências:
- José Ramos Jr. Semiotécnica da Observação Clínica. Volume II, Parte VI, 5ed. 538p. Editora Sarvier.
- Porto & Porto. Semiologia médica. 7 ed. Editora Guanabara Koogan, 2014.
- A. R. Freeman, Samuel A. Levine. The clinical significance of the systolic murmur. A study of 1000 consecutive “non-cardiac” cases. Ann Intern Med. 1933;6(11):1371-1385.
- Mark E. Silverman and Charles F. Wooley. Samuel A. Levine and the History of Grading Systolic Murmurs. Am J Cardiol 2008;102:1107–1110.
- Kanu Chatterjee. Auscultation of cardiac murmurs. UpToDate. Atualização em: 23 de Abril de 2014. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/auscultation-of-cardiac-murmurs.
- Patrick T. O'Gara; Joseph Loscalzo. Chapter e13. Approach to the Patient with a Heart Murmur. In: Harrison's Principles of Internal Medicine. Ed. Mcgraw-hill. 18th Edition, 2011.
- BRAUNWALD, E., ZIPES, D.P., ET AL - Braunwald's Heart Disease: A Textbook of Cardiovascular Medicine, 9th ed, Saunders Elsevier, 2011.
- 2014 AHA/ACC Guideline for the Management of Patients With Valvular Heart DiseaseA Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines.J Am Coll Cardiol. 2014
- Niteesh K. Choudhry, Edward E. Etchells. Does This Patient Have Aortic Regurgitation?JAMA. 1999;281(23):2231-2238
- Leonard Lilly. Pathophysiology of Heart Disease: A Collaborative Project of Medical Students and Faculty. 5th ed. 2010.

Sugestão de leitura:
Cardiac Auscultation: Rediscovering the Lost Art. Curr Probl Cardiol 2008;33:326-408. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0146280608000480#

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Framingham Heart Study e a prevenção de doenças cardiovasculares

            O estudo Framingham foi iniciado em 1948 pelo National Heart Institute, na cidade americana de Framingham, Massachusetts. Nesse mesmo ano, foram recrutados 5209 homens e mulheres entre 30 e 62 anos que iriam participar de avaliações físicas e iriam responder questionários sobre seus estilos de vida. A cada dois anos esses parcitipantes voltavam para refazer os exames e testes.
            O primeiro artigo dessa grande coorte foi publicado na revista Annals of Internal Medicine e teve como título “Factors of risk in the development of coronary heart disease—six-year follow-up experience; the Framingham Study”. Verificou-se que hipertensão arterial, cigarro e altos níveis de colesterol eram fatores importantes para o desenvolvimento das doenças coronarianas. Essa primeira publicação traria à tona o conceito de fatores de risco, depois bastante estudados ao longo de todos esses anos por muitos  outros pesquisadores.
            Em 1971, a segunda geração de participantes se iniciou. Dessa vez, 5,124 pessoas relacionadas aos participantes iniciais, como filhos (agora adultos) e esposas, passaram a participar de exames similares. Em 2002, houve o início de uma nova fase: a terceira geração do estudo, tendo como participantes os netos da coorte original.
            Hoje, quase 67 anos após o início do estudo, foram publicados mais de 2600 artigos. Entre eles, estão aqueles que descrevem os conceitos de fatores de risco ambientais, biológicos e comportamentais associados a doenças cardíacas. O Framingham revolucionou a medicina preventiva e mudou para sempre a maneira que os médicos e a população veem a origem da doença. O estudo foi o primeiro que incluiu também mulheres como participantes. Além disso, serviu de exemplo pra muitas outras coortes. Atualmente, conta com a colaboração da Boston University e de outros grandes centros.
Quer saber mais?
            Com este link você pode ler e acessar o primeiro artigo, que foi citado no texto. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1372949/pdf/amjphnation00326-0051.pdf

            Por que escolheram a cidade de Framingham? Quais eram as hipóteses dos primeiros pesquisadores? Quais artigos foram publicados ao longo de todos esses anos? Respostas a essas perguntas você pode ver no próprio site do estudo: http://www.framinghamheartstudy.org/

Gabriela F. Pucci
Liga de Cardiologia da Unicamp

sábado, 24 de maio de 2014

É possível a gravidez para mulheres cardiopatas?

A doença cardíaca continua sendo uma das complicações médicas mais importantes da gestação. O acompanhamento da gestante portadora de cardiopatia deve levar em conta as modificações hemodinâmicas que ocorrem na gravidez. Há pouco mais de 100 anos, a mulher portadora de cardiopatia era desencorajada a engravidar, porém, devido ao avanço terapêutico e à cirurgia cardíaca, houve melhora significativa no prognóstico das gestantes cardiopatas.
Para entender melhor o risco da gravidez para a cardiopata, é necessário que se entenda as modificações que ocorrem no corpo da mulher grávida: durante o ciclo gravídico normal, em torno da 6ª semana existe elevação do volume sanguíneo materno, atingindo o pico na 24ª semana, chegando a ser 50% maior que o volume sanguíneo pré-gravídico. Ocorre, ao mesmo tempo, um aumento da frequência cardíaca e, consequentemente, do débito cardíaco. Esse conjunto de alterações gerais resultará em um aumento do gradiente de pressão através da valva mitral, havendo aumento da pressão intratrial e, por conseguinte, da pressão capilar pulmonar.
Muitas vezes, aumentos pressóricos são compensados pela queda da pressão arterial sistêmica, sendo assim, o coração materno deve ser capaz de se adaptar à sobrecarga imposta pela gestação. No entanto, a gestante pode possuir uma cardiopatia sintomática ou assintomática, compensada ou descompensada, podendo dificultar ou impedir a sua adaptação cardíaca.
Através das conquistas da medicina, apoiadas nos avanços dos exames complementares, nas novas descobertas terapêuticas e na consagração da cirurgia cardíaca, o prognóstico das mulheres cardiopatas que engravidam melhorou sensivelmente.

A gravidez em cardiopatas continua sendo considerada de alto risco, contudo, não mais significa impossibilidade de continuar a gestação. Faz-se necessário acompanhamento de perto. Contudo, a gestação já não é mais impossível, dando a esperança de maternidade às cardiopatas, que eram desenganadas em relação a esse sonho.
Paula Helena G. de Souza.
Coordenadora da Liga de Cardiologia Unicamp 2014.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Há relação entre a variedade da nossa alimentação e a pressão arterial?

Boa noite pessoal!

Dando continuidade ao tema pressão arterial, publicado no post anterior, hoje trago para vocês um artigo interessante que relaciona a alimentação e sua influência na pressão arterial.

Este artigo publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia em 2012, feito sob enfoque da Nutrição e da Medicina, traz dados interessantes sobre a pressão arterial diastólica e sua relação com a ingesta de açúcar e de colesterol, assim como a relação entre a ingesta de uma dieta bem variada (> 8 alimentos) e uma pressão arterial sistólica protegida. Logo, podemos relacionar diretamente a VARIABILIDADE DA DIETA com PROTEÇÃO PARA A PRESSÃO SISTÓLICA.

Assim, baseado neste artigo, é importante termos em mente que, quanto mais variada for a nossa dieta - quanto mais 'coloridos' forem os alimentos selecionados -, mais estamos colaborando com nossa saúde cardíaca, sobretudo com o nível de normalidade da nossa pressão arterial sistólica. Não deixando de lado, claro, hábitos saudáveis como os exercícios físicos (sempre orientados por um profissional que entende do assunto), ingestão leve a moderada de álcool, noites de sono adequadas - fatores que não foram relacionados neste artigo.

CONFIRAM O ARTIGO AQUI!

Deixo para vocês aqui também, a famosa pirâmide nutricional, que agora foi acrescida de hábitos saudáveis em sua porção mais inferior!



Qualquer dúvida ou comentários, escreva-nos!
Teremos prazer em respondê-lo!

Bons estudos :)

Mayara Schiavon Rabelo - Coordenadora da Liga de Cardiologia da Unicamp

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Hipertensão Arterial e Déficit Cognitivo


A hipertensão arterial sistêmica é reconhecidamente um fator de risco para diversas doenças, como aterosclerose, insuficiência cardíaca e renal e acidente vascular cerebral. Mas será que existe relação entre hipertensão arterial e diminuição do desempenho cognitivo?

O assunto ainda é controverso, mas vários estudos sugerem que essa associação existe sim, principalmente em indivíduos idosos. Os estudos compararam o desempenho de dois grupos de idosos, um de normotensos e outro de hipertensos, em diversos testes cognitivos reconhecidos mundialmente. O desempenho do grupo de hipertensos foi significativamente inferior nos testes de atenção, velocidade de processamento de informações, concentração e memória, compreensão e expressão da linguagem e em testes de praxia.


É importante destacar, contudo, que os trabalhos apresentam limitações e que existem trabalhos semelhantes que não encontram alterações significativas entre os grupos estudados. De qualquer forma, trata-se de mais uma possível implicação da hipertensão arterial que merece mais atenção. 

Dois artigos sobre o tema podem ser encontrados nos links abaixo:


Luiza Leal
Coordenadora da Liga de Cardiologia da Unicamp

terça-feira, 13 de maio de 2014

Uma rápida passagem pela história da Cardiologia

       A medicina avançou muito nas últimas décadas- as fisiopatologias de diversas doenças foram decifradas, vários medicamentos foram criados e outros tantos foram deixados de lado, métodos diagnosticos mais precisos foram desenvolvidos, entre várias outras evoluções. Isso beneficiou muito a área da cardiologia que passou a ter grande destaque e passou a estar mais preparada a enfrentar a ampla prevalência de doenças cadiovasculares.
        Mas, na realidade, o interesse pelo estudo do coração é muito antigo, foram necessários séculos de estudo para se chegar ao conhecimento atual. Seguindo uma rápida evolução pela linha do tempo e deixando muitos fatos importantes de lado, temos este pequeno vislumbre da história:
        Com a datação estimada em 3000 a.C,  papiro de Smith, atribuído a Imhotep, possui uma descrição sobre coração e suas ligações com vasos sanguíneos, que se distribuíam pelo corpo, descrevia também o conhecimento sobre a existência de pulsações. Depois disso, na Grécia Antiga, Platão já afirmava que o coração era o órgão central da circulação e que o sangue se encontrava em constante movimento. Neste mesmo período histórico, Hipócrates ensinava que o coração era dividido em cavidades e que algumas destas eram separadas por válvulas. Ele também ensinava sobre a diferença na coloração do sangue entre as cavidades direitas e esquerdas. Descreveu ainda que as veias funcionavam como vasos que conduziam sangue e as artérias como canais de condução de ar.
        No século III a.C., Herófilo descreveu a diastóle, a sístole e quatro aspectos fundamentais do pulso-frequência, amplitude, força e ritmo. Foi o primeiro estudioso a analisar as arritmias cardíacas. Na Renascença, com os estudos de cadáveres, Leonardo da Vinci foi capaz de descrever melhor a estrutura cardíaca e relatou muitas modificações que compromentem os vasos arteriais com a idade, como a aterosclerose.
         Na década de 1630, William Harvey, considerado por muitos como fundador do moderno método de aplicação da medicina e como pai da fisiologia, fez diversas contribuições para o conhecimento do sistema circulatório,corrigindo erros anteriores e explicando novos aspectos.
        No século XVIII, Heberden descreve a apresentação da angina, sua localização, irradiação, sintomas associados, a sensação de morte iminente e faz ainda a associação entre os sintomas e a realização de atividades físicas. Neste mesmo século, houve a introdução do digital, medicamento que faz parte até hoje do arsenal terapêutico da cardiologia. Também foi estabelecido o princípio da hidrostática na circulação e foi feito o primeiro cateterismo em um animal vivo. No século XIX, houve diversos avanços na área da propedêutica e foi criado o estetoscópio, instrumento essencial para um médico.
        Devido às mudanças dos hábitos de vida da população (como a alimentação ruim, sedentarismo, estresse emocional) que passaram a ocorrer desde o século XX, com o aumento da prevalência de doenças cardiovasculares e o enorme avanço tecnológico, a Cardiologia tornou-se uma das mais avançadas especialidades médicas. Este foi um século de grandes desenvolvimentos tecnológicos e de cirurgias cardiacas. Foi o “século dos cirurgiões”.
        No Brasil, contudo, foi apenas nas décadas de 1920-1949 que a Cardiologia estabeleceu-se como especialidade médica, graças as contribuiçoes de Carlos Chagas (realizou os primeiros estudos brasileiros sobre doenças cardíacas e trouxe o primeiro eletrocardiografo para o país) e de Dante Pazzanese (organizou o primeiro serviço especificamente voltado para o diagnóstico e tratamento de doenças cardíacas). Desde então, esta especialidade vem crescendo e se desenvolvendo muito.
        Para quem tiver mais interesse sobre o assunto,  fica o link abaixo da onde retirei os dados apresentados:
        Espero que tenham gostado de ver o quanto esta grande especialidade avançou para se tornar o que é hoje.

Agradeço a atenção,

Amanda Caon Morioka
Coordenadora da Liga de Cardiologia

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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Exercício físico e o Coração - Parte II

  Como havíamos comentado algumas semanas atrás, o exercício físico (principalmente aeróbio) acarreta muitos benefícios para o sistema cardiovascular. A partir de hoje, iremos exemplificar tipos de exercícios que podem melhorar a função cardíaca e quais são mais adequados a cada característica do leitor.
  Iniciaremos hoje com o exercício aeróbio mais simples, que é a corrida leve. A corrida pode ser praticada em qualquer lugar, necessitando apenas de um tênis confortável. 
  É importante aquecer antes de iniciar a atividade física, e, pra isso, sugerimos uma caminhada de 5 minutos. O aumento da temperatura corporal auxilia na flexibilidade dos músculos a serem utilizados no exercício.
  Após o aquecimento, podemos começar a corride leve. Esta corrida é aquela parecida com um 'trote', de pequena intensidade. Se formos pensar em correr na esteira, seria uma variação de velocidade entre 6,5 e 8,0km/h, dependendo do biotipo da pessoa. Mas esta corrida pode ser em parques, em volta de lagos, onde for melhor para o praticante.
  Mas e o tempo? E se eu não aguentar correr? Todas essas dúvidas surgem durante o início da prática de exercício físico. O exercício aeróbio é mais eficaz quando a continuidade da atividade é maior, mas nada impede que essa continuidade seja segmentada para conseguir realizar um tempo maior de exercício. Portanto, exemplificaremos a corrida leve de duas formas:
  1- aquecimento de 5 minutos com caminhada. Corrida leve de 25 minutos com velocidade entre 6,5 e 8,0km/h. 
  2- aquecimento de 5 minutos com caminhada. Corrida leve intervalada (2 minutos com velocidade 7,0km/h e 3 minutos caminhando com velocidade 5,0km/h). Faz-se esse intervalo até completar 25 minutos de corrida.
  A corrida intervalada é um ótimo começo para quem não consegue correr o tempo todo por baixa resistência. Esses exercícios podem ser feitos pelo menos três vezes por semana. E, conforme a resistência for aumentando, o tempo de corrida também pode ser estendido.
  Precauções do exercício de corrida: a corrida é excelente para melhorar o funcionamento do coração, mas não é recomendada para indivíduos obesos, com problemas articulares, dores na coluna, pessoas que já passaram por uma cirurgia cardíaca como colocação de pontes, pressão arterial descontrolada, dentre outros. Portanto, é sempre necessário consultar seu médico e um profissional de educação física antes de iniciar uma atividade física. A corrida é excelente para o coração, mas como forma de prevenção, e não de cura.
  Nas próximas semanas colocaremos outros exercícios que sejam melhores para os indivíduos que não devem praticar a corrida.
  Lembrem-se de se hidratarem sempre durante a prática de atividade física. 
  Qualquer dúvida, entrem em contato conosco!
  Vamos começar a cuidar do coração! E, quem puder, vamos correr!
  
Filipe Canela

Liga de Cardiologia Unicamp

terça-feira, 6 de maio de 2014

Síndromes Ansiosas e Risco Cardiovascular

Boa noite pessoal, vou hoje discorrer um pouco sobre um tema que ainda hoje é controverso: a correlação entre Síndromes Ansiosas e o Risco Cardiovascular.


Primeiramente, deve-se frisar que a denominação “Síndrome Ansiosa” é demasiadamente genérico. Por muito tempo os estudos relacionados ao assunto utilizaram, erroneamente, esse grupo de doenças como um fator homogêneo para definição de aumento de risco cardiovascular.

Em pesquisas passadas o que foi verificado (e é amplamente aceito) é  uma correlação positiva entre essas entidades e o risco cardiovascular. Porém, esses resultados possuem um forte revés a ser levado em conta: as síndromes ansiosas possuem sintomatologia e acometimentos extremamente heterogêneos, de modo que dificilmente gerariam efeito cardiovascular semelhante.

Com isso em mente, um estudo recente tentou uma nova abordagem para desvendar o real impacto das síndromes ansiosas no risco cardiovascular. Apesar de diversas limitações apresentadas (curto período de acompanhamento, grupo estudado relativamente jovem e limitação do número de pessoas doentes), o estudo agrupou as síndromes ansiosas em 3 grupos para estudo independente: o grupo “pânico” (Sindrome do Pânico e Ataques de Pânico), o grupo  “fobia” (Agorafobia e Fobia Social) e o grupo “preocupação” (Síndrome da Ansiedade Generalizada).

Assim, foi possível uma análise mais adequada de cada um desses grupos isoladamente, e os resultados foram bastante interessantes: os grupos “pânico” e “fobia” não apresentaram nenhum tipo de correlação com aumento de risco cardiovascular! Em relação as fobias esse resultado acaba não apresentando grande novidade em relação ao conceito já estabelecido por outros estudos, mas em relação a Síndrome do Pânico ainda existe bastante controvérsia. Por mais que a Síndrome do Pânico seja considerada um risco cardiovascular para alguns autores, não existe um consenso devido a quantidade insuficiente de trabalhos com esse enfoque.


Em relação a Síndrome da Ansiedade Generalizada foi encontrada uma forte correlação com risco cardiovascular! Os dados obtidos foram tão expressivos que o risco relativo seria capaz de se equiparar ao de alguns fatores de risco tradicionais. Obviamente que mais estudos devem ser feitos para corroborar essa informação, mas se confirmada pode ser um nicho novo de atuação na prevenção de eventos cardiovasculares!

E isso destaca-se especialmente pela prevalência da doença na população e pela baixa adesão ao tratamento. Atualmente, apenas uma pequena parte dos doentes buscam auxílio para esse acometimento, ou se o fazem acabam não aderindo ao tratamento de maneira adequada. Assim, uma intervenção nessa população poderia auxiliar na redução da incidência de eventos cardiovasculares, cuja morbi-mortalidade faz com que sejam hoje a principal causa de morte no país.

Bom, por hoje é só pessoal, tenham uma boa noite!

Eric Renan Gomes

Liga de Cardiologia da UNICAMP

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Vocês já ouviram falar da Síndrome do Coração pós-feriado?

Boa noite, pessoal que visita o Blog da Liga de Cardiologia da Unicamp!
Estava dando uma olhada em artigos sobre Cardiologia e me deparei com um artigo que tem muita relação com o tema recém visto em nossas aulas teóricas com o Dr. Fernando Piza (ECG e arritmias) e com o feriado prolongado que se iniciou hoje, dia 1º de Maio.
Este artigo fala sobre a Síndrome do Coração pós feriado, descoberta há 34 anos. É uma doença caracterizada pelo aparecimento de arritmias cardíacas após a ingestão excessiva e aguda de álcool. Por isto ela leva este nome interessante: casos assim aparecem mais frequentemente após feriados e finais de semana, quando o pessoal se reúne com amigos para 'beber alguma coisa'.
O interessante deste artigo é que, além de ser um Artigo de Revisão explicando um pouco mais sobre a história desta doença subdiagnosticada em nosso meio, é que ele cita muitos dos tipos de arritmias que o álcool pode desencadear - fibrilação atrial, flutter atrial, taquicardia atrial paroxísticas e extrassístoles ventriculares isoladas -, algumas delas expostas em nossa aula teórica.


Para um melhor aproveitamento e fixação do seu estudo, tente associar os tipos de arritmias citadas neste artigo e que podem aparecer devido a um "binge drinking" com os traçados de ECG que nós podemos ter. Esta prática de associar o nome da doença com um traçado de ECG visível relacionado a ela torna mais o aprendizado e até um diagnóstico futuro quando começarmos a exercer nossa profissão médica.


Bom feriado a todos!

Mayara Schiavon Rabelo
(Coordenadora de Extensão da Liga de Cardiologia da Unicamp)