segunda-feira, 30 de junho de 2014

Ecocardiograma com contraste- um exame de imagem, uma obra de arte, mas com utilidade clínica?

 Os exames de imagem cardiológicos são uma verdadeira obra de arte. Cada vez mais estão desenvolvendo tecnologias para melhorar a imagem cardiovascular, trazendo-a o mais próximo da realidade possível. Um exemplo disso é o ecocardiograma, exame complementar não-invasivo de diagnóstico, de avaliação de gravidade, de planejamento terapêutico e de estratificação prognóstica utilizado em quase todas as patologias cardíacas. O conceito técnico básico deste exame é utilizar um transdutor que gera ondas de ultra-som (alta frequência, acima dos níveis de audição humana) e que capta as ondas que refletiram e voltaram. Sendo que quanto maior a densidade de um meio, maior sua capacidade de refração do som, o aparelho consegue transformar assim os diferentes graus de refração do som em imagens do coração com detalhes sobre o mesmo, como tamanho, espessura, forma, modo como válvulas e câmaras estão trabalhando. Além de ser capaz também de identificar se alguma área do músculo cardíaco não está funcionando adequadamente por baixo fluxo sanguíneo ou lesão resultante de ataques cardíacos prévios.
             É um exame muito utilizado na investigação de sopro cardíaco, presença de palpitações, síncope, falta de ar, dor torácica, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, doença das válvulas, anomalias congênitas, entre outras. Por não possuir efeitos colaterais e ter relativo baixo custo, facilidade de transporte e operacionabilidade, o ecocardiograma se tornou um dos exames mais pedidos da atualidade.
Assim como no mundo das artes, que há diversos modelos e sistemas de acordo com as experiências da época, a ecocardiografia mudou muito nas últimas décadas, criando diversas modalidades de geração de imagem, cada uma com um tipo de indicação clínica específica. Neste contexto, um dos últimos desenvolvimentos na área foi a utilização de contraste neste exame de imagem.
              O ecocardiograma contrastado consiste no uso de agentes de contraste à base de microbolhas injetados por via endovenosa periférica para melhorar o sinal ecocardiográfico. O mecanismo primário pelo qual a injeção de microbolhas contrasta as diferentes estruturas cardíacas é decorrente da introdução de múltiplas interfaces gás-líquido na circulação, levando ao aumento da reflexão do ultra-som e melhorando a qualidade das imagens ecocardiográficas.
             As microbolhas utilizadas atualmente são formadas por envoltório proteico ou lipídico contendo gases de alto peso molecular em seu interior, que lhes confere estabilidade suficiente para atravessar a barreira pulmonar e contrastar as cavidades cardíacas esquerdas e a circulação coronária. É um exame usado para melhorar a definição das bordas endocárdicas, opacificação do ventrículo esquerdo (dados utilizados na avaliação mais adequada da função contrátil global e segmentar do ventrículo esquerdo, e medidas mais acuradas dos volumes ventriculares e fração de ejeção, permite também avaliar presença de trombos, trabeculações, tumores dentro da cavidade ventricular, além da avaliação de anormalidades do ápice, tais como pseudoaneurisma, hipertrofia e abaulamento apicais), sendo aplicada a estudos em repouso ou sob estresse.
 






              A estabilidade dos agentes contrastantes na circulação junto com a alta tecnologia colocou a ecocardiografia com contraste como uma técnica segura e eficaz para avaliação da perfusão miocárdica. As aplicações clínicas da ecocardiografia com contraste miocárdico incluem a avaliação de pacientes com doença arterial coronária suspeita ou conhecida, a determinação da área de risco e eficácia das terapias de reperfusão em pacientes com infarto agudo do miocárdio e a avaliação de viabilidade miocárdica após o infarto (identificação do fenômeno de no-reflow, caracterizado pela ausência de perfusão microvascular apesar do restabelecimento da patência da artéria coronária epicárdica; é um marcador de necrose miocárdica e é associado com menor chance de recuperação funcional e pior prognóstico) e no contexto da doença arterial coronária crônica (identificação de miocárdio hibernado, que possui importância fundamental em pacientes com doença arterial coronária crônica para definir seu tratamento adequado, uma vez que a cirurgia de revascularização miocárdica pode resultar em melhora dos sintomas e diminuição de risco para eventos futuros). Estudos recentes têm demonstrado que a análise da perfusão miocárdica pela ecocardiografia com contraste miocárdico em tempo real apresenta maior sensibilidade e acurácia para o diagnóstico de doença arterial coronária que a análise da motilidade segmentar pela ecocardiografia sob estresse. A quantificação do fluxo miocárdico regional e da reserva de fluxo miocárdico pela ecocardiografia contrastada parece apresentar valor adicional para estimar a gravidade da doença coronária.
               Em conclusão, entende-se que a ecocardiografia com contraste é um método não-invasivo, sem radiação ionizante, seguro que propicia dados anatômicos cardiovascular, de fácil acesso e disponibilidade, com resultados rápidos, boa relação custo-benefício e dispõe de repetidas investigações científicas que ratificam o seu emprego na prática clínica, tanto para melhor definição das bordas cavitárias como para estudar a perfusão miocárdica. Por tudo isso, vê-se que não produz apenas imagens bonitas, mas possui grande utilidade clínica, com provável aumento de realização deste exame no futuro.
                 Espero que tenham gostado do texto e que tenham se apaixonado por estas incríveis imagens assim como eu!
Boa noite,
Amanda Caon Morioka
Coordenadora da Liga de Cardiologia da Unicamp
                
Referências:
Ecocardiografia com contraste. Tem futuro? Cláudio L. Pereira da Cunha. Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná - Curitiba, PR. Arq. Bras. Cardiol. vol.87 no.2 São Paulo Aug. 2006.


Uso clínico da ecocardiografia com contraste à base de microbolhas. Jeane Mike Tsutsui; Wilson Mathias Junior. Instituto do Coração do Hospital das Clínicas – FMUSP – São Paulo, SP. Arq. Bras. Cardiol. vol.88 no.5 São Paulo May 2007.

 Uso de Contrastes no Ecocardiograma em Repouso . 6 de junho de 2012. Lang, Ecocardiografia Dinâmica. Cardiologia | Medicina


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Suplementos esportivos trazem risco para o coração?

  Hoje, em vez de falarmos de exercícios físicos que beneficiam o coração, vamos levantar uma dúvida sobre os efeitos dos suplementos esportivos para o sistema cardiovascular.
  Os suplementos esportivos ganharam muita força no final da década de 90, e crescem cada vez mais, diversificando o número de indústrias que estão investindo nesses produtos. A febre que atinge população de todas as idades, mas principalmente os mais jovens, criou um novo paradigma para atingir um corpo desejado esteticamente, combinando exercícios na academia com diversos suplementos. Mas será que a beleza estética condiz com o bom funcionamento fisiológico do organismo?
  Exemplificaremos aqui com os suplementos mais utilizados, e deixaremos esta dúvida, uma vez que o tempo necessário para analisar os efeitos a longo prazo desses produtos ainda não foi atingido e, portanto, colocamos isso como um provável risco para o futuro se não bem acompanhado.
  Sem dúvida, um dos suplementos mais utilizados pelos jovens na academia é o Whey Protein, cuja dosagem de proteína é muito elevada, e muito mais fácil de ingerir essa quantidade proteica pelo suplementos do que pela alimentação natural. Mas apontamos aqui duas grandes questões: a primeira é que a maioria dos usuários não treina o tempo suficiente para necessitar de uma suplementação. Segundo, e mais importante para nós em relação ao coração, é que esse suplemento possui uma quantidade de sódio muito acentuada por dose. Ou seja, será que a longo prazo, quem faz uso contínuo desses suplementos não será um potencial predisponente a hipertensão arterial? Talvez, daqui a 20 anos, os jovens 'atletas' de hoje serão futuros hipertensos.
  Dentre outros suplementos utilizados, a principal preocupação é com o sódio, e a combinação que é feita pelos usuários sem informação de um nutricionista. Muitos combinam o Whey Protein com Creatina, malto, BCAA, e ainda não sabemos os efeitos que essas concentrações podem apresentar para o sistema cardiovascular e renal, que também é um alvo dos suplementos por sobrecarregar a função dos rins e, consequentemente, prejudica ainda mais o músculo cardíaco.
  Como já dissemos, esse é um ponto ainda sem resposta definitiva no mundo científico, mas que merece atenção especial pelos potenciais riscos dessa população encantada pelo corpo perfeito. Como recomendação, deixamos a importância de se consultar profissionais da área, como nutricionistas para o uso de suplementos e educadores físicos para treinamentos esportivos.
  Recomendamos um artigo e um livro referenciados ao final deste post para melhor entendimento do assunto.
 
 Referências Bibliográficas
 1- Chrysant SG. 'Controversy Regarding the Association of High Calcium Intake and Increased Risk for Cardiovascular Disease.' J Clin Hypertens (Greenwich). 2014 May 29.
 2- Livro: 'Nutrição Esportiva - Aspectos Relacionados À Suplementação Nutricional' Autora: Thaís Verdi Nabholz. Editora: Sarvier.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Quer uma ajuda para se manter atualizado?? Read by QxMD app

"Como faço para me manter atualizado?? São mil publicações e eu não tenho tempo de ficar todo dia procurando no pubmed!"

Esse desespero é lugar comum do estudante, do interno e ainda mais do residente! 

     Para dar uma noção do volume de publicações, em uma pesquisa pelo termo "Cardiology" no site da NCBI, encontrei esses valores:
     São 326 revistas referenciadas na NCBI, imagina então o volume semanal de publicações que temos só na nossa área!

     Então para ajudar um pouco nesse árduo trabalho (mas prazeroso) de se manter atualizado e até mesmo saber quais são os principais artigos científicos, surgiram alguns apps (aplicativos) que facilitam e até mesmo te lembram de ver os artigos que acabaram de sair do forno! 
Entre eles, escolhi o Read by QxMD para contar para vocês!

O que gostei bastante desse app é a enorme personalização do que você quer acompanhar. 

Como mostrado nas figuras abaixo, você pode customizar: quais especialidades, quais jornais, quais coleções (alguns jornais ou a própria equipe do app ou algumas pessoas fazem coleções de papers de acordo com um tema) e ainda quais termos que você quer o programa procure os artigos mais atuais ou mais famosos
Menu de Configurações
Lista de Categorias
Lista de Revistas Científicas
Exemplo de Coleções


Exemplo de escolha de Termos


     Depois de configurar suas preferências, o app seleciona de acordo com suas escolhas e você navega facilmente por elas: 
Menu
Lista os mais recentes
Separa os papers por jornal 
Exemplos de Coleções



 
Separa os papers pelos termos escolhidos

    E quando você clica no artigo que deseja saber mais, quando disponível ele baixa a versão em pdf ou resumo. Você pode também compartilhar nas redes e via email, abrir com outro aplicativo, fazer comentários, selecionar entre os favoritos..
Exemplo de artigo selecionado
Opções de compartilhamento

Possibilidade de Comentários e Discussão


Abertura do artigo em outros apps

     E não para por aí, o Read by QxMD ainda manda email com os Mais Lidos, Mais recentes.. tudo para você não esquecer de verificar como anda a ciência!


E quando você clica no artigo que te interessou no email, ele direciona para o site deles com o resumo do artigo, por exemplo:

Mais sobre o aplicativo: http://www.qxmd.com/apps/read-by-qxmd-app


Será que vai ser útil a sua prática clínica e estudo??
E você tem alguma outra sugestão de app para testarmos aqui?

Até a próxima!
Elayne Oliveira
Presidente da Liga de Cardiologia da UNICAMP

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Quais são os sintomas que levam uma pessoa ao cardiologista?

Comumente, os principais sintomas que levam uma pessoa a procurar um cardiologista são dor no peito, palpitações, dispneia, edema, síncope, fadiga, hemoptise e cianose. Nos próximos parágrafos faremos uma pequena revisão sobre o que são esses sintomas e o que eles podem significar num contexto de doença cardíaca.

1.Dor no peito e angina pectoris: provavelmente é o sintoma mais importante de doença cardíaca, apesar de não ser patognomônico desta. É importante caracterizar o local da dor, a duração, se estão acontecendo episódios recorrentes de dor, quando ela acontece, quanto tempo dura, o que melhora ou piora, qual a característica da dor (pontada, queimação, aperto etc) e se está relacionada à atividade física, alimentação, palpitações, náusea ou outros sintomas. A angina pectoris é o principal sintoma da doença coronariana, geralmente sendo consequência da hipóxia do miocárdio. O sinal de Levine é patognomônico de angina e está ilustrado abaixo. 
Sinal de Levine.

2.Palpitações: são sensações desconfortáveis no peito associadas a arritmias. São comuns e não necessariamente indicam doença cardíaca grave. Na anamnese, é importante perguntar há quanto tempo o paciente vem sentindo as palpitações, qual a frequência, quando ocorrem, quanto tempo duram, se há fatores que melhoram ou pioram, se ocorrem durante exercício físico, entre outras. Cabe ressaltar que alguns medicamentos podem causar arritmias, bem como ansiedade e stress emocional.

3. Dispneia: a dispneia ou “falta de ar” também traz o paciente ao cardiologista. Se a dispneia ocorre à noite, é chamada de dispneia paroxística noturna e é um sintoma específico da insuficiência cardíaca congestiva. A ortopneia se reflete na necessidade de usar mais travesseiros para dormir, já que a posição deitada piora o quadro; assim, é importante perguntarmos quantos travesseiros a pessoa usa para dormir. A dispneia de esforço deve ser caracterizada se ocorre aos grandes, médios ou pequenos esforços, sendo este último relacionado à maior gravidade da doença.

4. Síncope e desmaio: síncope é a perda de consciência transitória, relacionada ao baixo fluxo de sangue cerebral e relatada como “sensação de desmaio”. É importante perguntar se o paciente sentiu palpitações antes da síncope, já que isso pode indicar uma causa arritmogênica. A posição em que ela ocorre também é importante; se ela ocorre quando o paciente levanta abruptamente, pode ser hipotensão ortostática.

5. Fadiga: pacientes com insuficiência cardíaca e doenças valvares comumente se queixam de fadiga, embora ela também não seja específica para problemas cardíacos. É importante caracterizar quando o paciente se sente fadigado, como ela começa ou se ele já acorda cansado, entre outros.

6. Edema: edema de membros inferiores é uma queixa comum do paciente com problemas cardíacos. Para caracterizar o edema, notar se é uni ou bilateral, duro ou mole, quando ele ocorre ou quando se intensifica, se é ou não acompanhado de dor, o que o paciente faz que melhora ou piora entre outros. O paciente com insuficiência cardíaca direita apresentará edema simétrico no membro inferior e que piora ao longo do dia.

7. Hemoptise: estenose mitral é uma possível causa de hemoptise, quando há rupturas de veias brônquicas que estão sob alta pressão nessa condição. Além disso, há também as causas pulmonares para a hemoptise.

8. Cianose: também notada em pacientes com doenças pulmonares e cardíacas. No caso das doenças cardíacas, pode ser resultado de um shunt direita-esquerda como na permanência do ducto arterioso. Nesse caso, acomete os membros inferiores já que ocorre abaixo do nível das carótidas e subclávias.

Boa noite e bons estudos a todos.

Gabriela Pucci 
Liga de Cardiologia Unicamp


Bibliografia
Semiologia Médica, Celmo Celeno Porto, 5ª edição.
Textbook of Physical Diagnosis, Mark H. Swartz, 6th edition. 

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Na angioplastia qual acesso é o melhor? Acesso radial ou Femoral?

Boa noite pessoal!

Hoje vou dedicar meu post ao tema retratado na última aula da nossa Liga: cateterismo e angioplastia, ministrada pelo Dr. Rodrigo Modolo, que introduziu conceitos básicos sobre esta modalidade de diagnóstico e tratamento muito usado na Cardiologia.
Foi uma aula bastante interessante que colocou os ligantes mais próximos da Cardiologia Intervencionista, mostrando desde a História do Cateterismo até as fantásticas imagens do procedimento.
E o engraçado disso tudo é que hoje, estava aqui rondando a Internet à procura de um tema para ser retratado aqui e me deparo com a Edição atual dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, no qual trouxe uma das discussões vistas na aula na forma de um artigo... Devemos optar por uma via FEMORAL ou RADIAL quando formos realizar uma Angioplastia?
O Dr. Rodrigo contou-nos que, atualmente, a via radial tem sido amplamente usada no HC da Unicamp, isto porque é uma via mais prática, mais tranquila para o paciente, mais aceita por ele também, realidade esta diferente do que era observado antigamente, quando a via femoral era a escolhida exclusivamente como acesso às coronárias. Mas aí vem a dúvida... como a via radial tem sido mais usada será que ela nos traz mais benefício em relação à femoral?



De acordo com este artigo publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, as duas vias são extremamente seguras e eficazes para este uso e esta conclusão foi obtida a partir da análise de pacientes incluídos no Registro da Prática Clínica em Síndrome Coronária Aguda (ACCEPT).
É um artigo bastante interessante, embasado em outros estudos muito conhecidos e difundidos no meio científico, como o Radial versus Femoral Access for Coronary Intervention (RIVAL), Radial Versus Femoral Randomized Investigation in ST-Elevation Acute Coronary Syndrome (RIFLE-STEACS), nestes a via radial é tida como preferência, dado menos taxa de mortalidade e de sangramentos graves, quando comparados à via femoral.

Deixo com vocês agora estes estudos citados no post e o artigo dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia! Não deixem de ler!!!


E aí alguém tem contato com outros hospitais de outras cidades, estados, países e sabem o que eles priorizam na hora de escolher uma via de acesso para o cateterismo? Se preferem radial ou femoral? Conhecem outros estudos que comparam estas vias?

Não deixem de deixar o seu ponto de vista e o seu conhecimento sobre o tema nos comentários abaixo! 
Ficaremos honrados em compartilhar conhecimentos também por aqui!

Bons Estudos Pessoal!
:)

por Mayara Schiavon Rabelo - Coordenadora da Liga de Cardiologia da Unicamp 2014

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Copa do Mundo e Doenças Cardiovasculares


Para os que gostam de futebol, a Copa do Mundo é um evento muito aguardado, que deixa todos animados e ansiosos. No ano em que o evento acontece no Brasil, não seria diferente! O país já está em clima de festa, muitas pessoas já se programaram para assistir aos jogos e, claro, para torcer muito pelo hexacampeonato brasileiro! Mas o campeonato de futebol pode criar um meio estressante, e será que isso aumenta as chances dos torcedores desenvolverem eventos cardiovasculares?

As doenças cardiovasculares agudas podem ser desencadeadas por alguns estímulos, como por exemplo, o estresse. São os chamados “gatilhos”. E os jogos de futebol, por aflorarem as emoções e criarem um ambiente estressante, podem se caracterizar como possíveis gatilhos para essas doenças. Diversos estudos foram realizados para tentar descobrir se um jogo de futebol é intenso o suficiente para causar um aumento no número de eventos cardiovasculares agudos entre os torcedores.

Estudos na Inglaterra, Holanda e Alemanha mostraram aumento significativo no número de pacientes atendidos devido ao infarto agudo do miocárdio, e outros eventos cardiovasculares, nos dias em que as seleções nacionais participaram de jogos importantes de Copas do Mundo (e outros campeonatos grandes), especialmente quando jogos foram dramáticos e decididos nos minutos finais. No Brasil, um estudo comparando o número de infartos agudos do miocárdio nos dias de jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo, com períodos em que não houve jogos do Brasil, também constatou aumento no número de eventos nos períodos de jogos.

Mas os achados não são incontestáveis. Outros trabalhos, como o realizado na Itália (também considerando a participação da seleção em Copas do Mundo, inclusive em jogos decisivos e dramáticos) não apontam diferenças significativas entre o número de pessoas atendidas nos serviços de saúde em dias com e sem jogos da seleção italiana.


Ainda assim, é bastante possível que a Copa do Mundo desperte emoções suficientemente fortes para se tornar um gatilho para doenças cardíacas agudas. Portanto, prepare a torcida, mas cuidado com o coração!

Referências :

Copa do Mundo como gatilho:





Contestam Copa do Mundo como gatilho:




Luiza Leal
Coordenadora da Liga de Cardiologia da Unicamp

terça-feira, 10 de junho de 2014

Musicoterapia na doença cardíaca, funciona?

      De acordo com o texto feito pelo coordenador Eric Renan no blog,  há uma forte relação entre síndrome ansiosa e risco cardiovascular. Neste texto, ele conclui que o risco relativo desta síndrome seria capaz de se equiparar ao de alguns fatores de risco tradicionais. Mas além dessa associação descrita por ele, já foram feitas em várias pesquisas correlações entre doenças cardiovasculares e outras dificuldades psicossociais, como estresse crônico e depressão, não só no aparecimento da doença, mas também em sua evolução, pois viver com uma doença cardíaca é extremamente estressante, por envolver incertezas e ansiedades acerca do diagnóstico e dos vários procedimentos médicos do tratamento podem piorar o quadro clínico.
      Pela organização mundial de saúde, a doença se caracteriza por um desequilíbrio de todo o sistema ecológico do homem e não apenas pela ação de um agente causal ou pela evolução patogênica. Nesta visão,  a definição de saúde aparece mais do que a simples ausência de doença. Com isto em mente, começou a ser ativamente investigado a relação entre processos artísticos criativos e manutenção da saúde, pois esta passou a englobar aspectos psicoemocionais. A partir de então, foram observadas diversas evidências que indicaram que o envolvimento com atividades criativas (tanto como observador como quem pratica) tem o potencial de contribuir com a diminuição do estresse e a depressão, podendo servir como veículo para diminuir as doenças crônicas.
     Esta idéia de utilizar a expressão criativa artística como forte contribuinte no tratamento de doenças já foi abraçada por várias culturas. Há diversos registros históricos sobre povos que usavam pinturas, estórias, danças e cantos em rituais de cura. Neste sentido, vêm-se observando a relação da música com a doença. Pesquisas demonstraram que a musica terapia diminui a ansiedade, restabelece o equilíbrio emocional, diminui a dor, aumenta a sensação de controle do paciente, promove o bem-estar, aumenta a imunidade, relaxa, alivia o estresse, reduzindo a frequência cardíaca e a pressão sanguínea, portanto diminuindo o risco para doença cardiovascular. Além disso, a música ajuda a diminuir a dor e o estresse em um pós-cirúrgico cardíaco.
     Em um estudo, por exemplo, foi introduzido música em 45 quartos privativos hospitalares com 45 pacientes com infarto do miocárdio. Um monitor Holter foi conectado em cada paciente, enquanto respondiam formulário de estado de ansiedade era retirado os valores fisiológicos. Depois de ouvir música por 20 minutos, participantes tiveram redução significativa na frequência cardíaca e na respiratória, na demanda do miocárdio por oxigênio e da ansiedade.
     Mas apesar da maioria dos estudos atuais sugerirem que ouvir música pode ser beneficial para pacientes com doenças cardíacas, nem todas as triagens foram bem sucedidas. Algumas pesquisas encontraram pouco efeito da música sobre medidas fisiológicas da frequência cardiaca e da pressão sanguínea. Mas resultados contraditórios são esperados, uma vez que um dos fatores que mais interferem numa boa triagem é a música em si. Gosto musical é muito particular de cada pessoa, variando muito o estilo considerado como relaxante de uma pessoa para outra. Além disso, deve ser levado em conta o grupo amostral pequeno e variação na duração das sessões.
     Algumas pesquisas atuais questionam quais terapias baseadas em arte são mais ou menos efetivas, se os impactos da terapia podem ser relacionadas a outras variáveis importantes e pré-condições, e se os benefícios obtidos pela terapia são de longa ou curta duração. Também estão pesquisando se há algum estilo musical que leve aos efeitos benéficos supracitados em todos os pacientes neste tratamento.
      Portanto, use a música a seu favor, para diminuir o estresse e a ansiedade visando diminuir o risco de doença cardíaca!
      O post de hoje tomou como base artigos de revisão de literatura e o post anterior do coordenador Eric Renan. Para ter acesso a qualquer um destes textos, segue os links abaixo:
      Espero que tenham gostado e que aprofundem o conhecimento na área lendo os artigos citados.
      Obrigada pela atenção,
Amanda Caon Morioka
Coordenadora da Liga de Cardiologia

quinta-feira, 5 de junho de 2014

A Natação Beneficia o Funcionamento do Coração?


  Queridos leitores, dando continuidade aos textos de atividade física em relação ao sistema cardiovascular, hoje falaremos um pouco sobre a influência da natação para o coração, e quais as pessoas mais indicadas para praticar essa atividade.
  A última publicação sobre exercício físico foi em relação a corrida, exercício aeróbico muito benéfico ao sistema cardíaco, fácil de praticar, pois depende apenas de um tênis confortável e uma superfície não muito irregular, como parques, ruas planas, esteiras. Porém, fizemos uma ressalva que a corrida era limitada, uma vez que pessoas obesas, ou com problemas articulares poderiam sentir dificuldade para praticar essa atividade. Já a natação é um exercício excelente para quase todos os indíviduos, estando contra-indicada principalmente para aqueles que não sabem nadar, mas estes também podem aprender. 
  A natação nos proporciona essencialmente dois grandes benefícios em relação ao sistema cardiovascular: a perda de peso e o estímulo aeróbico para o músculo cardíaco.
  A perda de peso se deve ao gasto energético que a natação proporciona, sendo de 3 a 5 vezes maior que a corrida se considerarmos o mesmo tempo de exercício. Gastando mais calorias, o indíviduo tende a eliminar mais gordura do corpo, beneficiando a atividade do sistema cardiovascular.
  E o estímulo aeróbico para o miocárdio segue os mesmos preceitos já explicados nas publicações anteriores. O exercício aeróbico otimiza o funcionamento do coração por estimular a hipertrofia excêntrica do miocárdio, melhorando sua força de contração, aumentando o volume sistólico por ejeção e, consequentemente, reduzindo a frequência cardíaca para manter o mesmo débito necessário às funções do organismo.
  Bom, mas e como praticar a natação? É preciso saber as modalidades para atingir esses benefícios?
  Quando nos referimos à prática de exercício físico, não queremos seguir os treinamentos de atletas, mas apenas incentivar a regularidade com que as pessoas fazem alguma atividade. Portanto, o exercício mais simples de natação que atinge esses benefícios para o músculo cardíaco é nadar de um lado para o outro da piscina e marcar o tempo que foi necessário para isso. Então dá-se o intervalo de descanso que for necessário (mas no máximo 5 minutos), e volta para o lado inicial da piscina nadando no mesmo tempo em que foi marcado na primeira volta. O ideal é que o tempo de exercício seja de 45 minutos a 1 hora. E, conforme o condicionamento físico fique melhor, pode-se diminuir o intervalo de descanso, ou diminuir o tempo da volta entre um lado e outro da piscina.
  Como vimos, a natação não tem um treino tão sistemático e rigoroso quanto a corrida, podendo ser muito maleáveis o tempo e a intensidade de treino, uma vez que, mesmo a pequena quantidade de treinamento na piscina, requer mais gasto energético do que a corrida, e obesos e pessoas com dores articulares podem praticar pelo baixo impacto dessa atividade.
  Deixaremos recomendados aqui um artigo e um livro sobre a natação e os benefícios para o coração, para quem quiser se aprofundar mais no assunto.
  Agora vamos praticar! Mas lembrem-se sempre de manter uma boa alimentação, principalmente para nadar, devido ao intenso gasto energético, de se hidratarem, de consultar seu médico e um profissional de educação física antes de iniciar as atividades.
  Obrigado pela atenção de todos os leitores,

  Filipe Canela.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- Siddiqui NI, Nessa A, Hossain MA. 'Regular physical exercise: way to healthy life.' Mymensingh Med J. 2010 Jan;19(1):154-8
2- 'Take the plunge for your heart. You don't need to be a Pisces for your heart, and the rest of you, to reap the benefits of swimming.' Harv Heart Lett. 2009 May;19(9):3
3- Livro recomendado: 'Fisiologia do Exercício - Nutrição, Energia e Desempenho Humano' Macardle, William D.