terça-feira, 6 de maio de 2014

Síndromes Ansiosas e Risco Cardiovascular

Boa noite pessoal, vou hoje discorrer um pouco sobre um tema que ainda hoje é controverso: a correlação entre Síndromes Ansiosas e o Risco Cardiovascular.


Primeiramente, deve-se frisar que a denominação “Síndrome Ansiosa” é demasiadamente genérico. Por muito tempo os estudos relacionados ao assunto utilizaram, erroneamente, esse grupo de doenças como um fator homogêneo para definição de aumento de risco cardiovascular.

Em pesquisas passadas o que foi verificado (e é amplamente aceito) é  uma correlação positiva entre essas entidades e o risco cardiovascular. Porém, esses resultados possuem um forte revés a ser levado em conta: as síndromes ansiosas possuem sintomatologia e acometimentos extremamente heterogêneos, de modo que dificilmente gerariam efeito cardiovascular semelhante.

Com isso em mente, um estudo recente tentou uma nova abordagem para desvendar o real impacto das síndromes ansiosas no risco cardiovascular. Apesar de diversas limitações apresentadas (curto período de acompanhamento, grupo estudado relativamente jovem e limitação do número de pessoas doentes), o estudo agrupou as síndromes ansiosas em 3 grupos para estudo independente: o grupo “pânico” (Sindrome do Pânico e Ataques de Pânico), o grupo  “fobia” (Agorafobia e Fobia Social) e o grupo “preocupação” (Síndrome da Ansiedade Generalizada).

Assim, foi possível uma análise mais adequada de cada um desses grupos isoladamente, e os resultados foram bastante interessantes: os grupos “pânico” e “fobia” não apresentaram nenhum tipo de correlação com aumento de risco cardiovascular! Em relação as fobias esse resultado acaba não apresentando grande novidade em relação ao conceito já estabelecido por outros estudos, mas em relação a Síndrome do Pânico ainda existe bastante controvérsia. Por mais que a Síndrome do Pânico seja considerada um risco cardiovascular para alguns autores, não existe um consenso devido a quantidade insuficiente de trabalhos com esse enfoque.


Em relação a Síndrome da Ansiedade Generalizada foi encontrada uma forte correlação com risco cardiovascular! Os dados obtidos foram tão expressivos que o risco relativo seria capaz de se equiparar ao de alguns fatores de risco tradicionais. Obviamente que mais estudos devem ser feitos para corroborar essa informação, mas se confirmada pode ser um nicho novo de atuação na prevenção de eventos cardiovasculares!

E isso destaca-se especialmente pela prevalência da doença na população e pela baixa adesão ao tratamento. Atualmente, apenas uma pequena parte dos doentes buscam auxílio para esse acometimento, ou se o fazem acabam não aderindo ao tratamento de maneira adequada. Assim, uma intervenção nessa população poderia auxiliar na redução da incidência de eventos cardiovasculares, cuja morbi-mortalidade faz com que sejam hoje a principal causa de morte no país.

Bom, por hoje é só pessoal, tenham uma boa noite!

Eric Renan Gomes

Liga de Cardiologia da UNICAMP

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