Hoje vou falar sobre um assunto da Cardiologia bastante conhecido do ponto de vista leigo e científico quando o tema em questão é GESTAÇÃO. Muito se fala sobre hipertensão arterial na gravidez, eclâmpsia, pré-eclâmpsia, cardiopatia em gestantes, mas será que sabemos realmente a prevalência, diferença e a real importância que estas alterações tem durante a gestação?
Para começar, devemos saber que 1 a 4% das mulheres apresentam doenças cardíacas na gravidez, você acha pouco? Bom, é pouco o bastante para ser a causa não obstétrica de maior mortalidade materna. Preocupante, não acham? Já a hipertensão arterial de qualquer tipo ocorre em torno de 12 a 22% das gestações e também está entre as maiores causas de morbimortalidade materna.
Depois destes dados vemos que Cardiologia e Gravidez não andam assim tão distantes entre si!
Agora vamos às definições ligadas à HIPERTENSÃO ARTERIAL NA GESTAÇÃO:
1. Pré-eclâmpsia: Síndrome que ocorre após a 20ª semana de gestação, definida por: pressão arterial igual ou maior que 140x90mmHg + edema (que pode ser discreto ou imperceptível) + proteinúria (maior que 300mg nas 24h e que pode aparecer tardiamente).
2. Eclâmpsia: É a ocorrência de CONVULSÕES na mulher com sintomas de pré-eclâmpsia, no final da gestação ou após o parto.
3. Hipertensão Gestacional: Presença de pressão arterial elevada, vista pela primeira vez na segunda metade da gestação e na AUSÊNCIA DE PROTEINÚRIA.
4. Hipertensão Crônica: Elevação da pressão arterial antes do início da gestação. Esta condição favorece o desenvolvimento da pré-eclâmpsia.
Fatores de risco relacionados ao aumento da pressão arterial em gestantes:
- Primíparas
- Gestações múltiplas
- Mola hidatiforme
- Histórico familiar positivo (mãe, irmã)
- Gestação anterior positiva
- Mulheres negras
- Tabagistas
- Obesas
As doenças hipertensivas durante a gestação, assim como a hipertensão arterial essencial, acometem não apenas o sistema cardiovascular, mas apresentam repercussão sistêmica. Os órgãos que mais sofrem com este quadro, principalmente na gestação, são: rins, fígado, sistema nervoso central.
Como tratamento e avaliação destas gestantes com alterações dos níveis pressóricos, não devemos esquecer de acompanhá-las semanalmente ou ainda, se isto não for possível, interná-las em hospitais especializados com atendimento obstétrico e cardiológico, para que o acompanhamento tanto do feto, quanto da mãe seja feito de maneira adequada. Basicamente, temos como prioridade, medidas dos níveis pressóricos, repouso em decúbito lateral esquerdo, avaliação do peso da gestante, dieta hiperproteica e normossódica, avaliação da vitalidade fetal. Como destaque, vemos que o USO DE DIURÉTICOS EM GESTANTE É CONTRA-INDICADO, exceto sobre condições de insuficiência cardíaca congestiva, edema cerebral e edema agudo de pulmão.
Lembrando que, como o tratamento deste aumento do nível pressórico na gestação, sugestivo de pré-eclâmpsia e eclâmpsia é o PARTO, quanto mais precoce esta condição se instalar na gestante, maior é o risco de comprometimento do crescimento fetal e com isto, parto prematuro, aumentando a morbimortalidade perinatal.
Para falar um pouco sobre as CARDIOPATIAS durante a gestação, sugiro que vocês leiam (se já na leram) o post anterior do Blog da Liga de Cardio, que explica um pouco sobre as modificações fisiológicas que ocorrem na gravidez. A partir disto, temos que a causa mais frequente de cardiopatia na gestação é a DOENÇA REUMÁTICA, sendo responsável por 50% das cardiopatias durante este período.
Na maior parte das vezes, a mulher já apresentava esta alteração cardíaca antes da gravidez, porém assintomática, silenciosa ou ainda com sintomas bem discretos e que passam a se intensificar durante a gestação por conta de todas as alterações de fluxo sanguíneo, débito cardíaco e circulação que ocorrem durante este período. Pensando nisto é que há indicação de que qualquer mínimo sintoma que mulheres sintam, como dispneia, palpitação, cansaço, por mais discretos que sejam, antes da gestação e que por ventura, estas mulheres estejam pensando em engravidar, sejam contados ao médico, para que ele faça uma investigação mais dirigida ao aparelho cardiovascular e indique o acompanhamento multidisciplinar de um Cardiologista durante o pré-natal.
Ter uma cardiopatia descompensada durante a gestação aumenta o risco para o desenvolvimento de trabalho de parto prematuro, restrição do crescimento fetal, alterações da vitalidade fetal, rotura de bolsa precoce. Todavia, nem todas as gestantes com cardiopatia descompensada durante a gestação apresentarão estas condições de acometimento fetal
Para finalizar, devemos saber que o tratamento das condições de aumento da pressão arterial durante a gestação é clínico e exige um acompanhamento rigoroso da gestação até depois do parto. Enquanto que o tratamento das cardiopatias durante a gestação pode ser feito de maneira minimamente invasiva, com técnicas modernas que geram pouco risco às mães e aos bebês ou ainda, se for uma cardiopatia mais silenciosa, apenas um acompanhamento clínico rigoroso consegue levar à gestação até o final.
Deixo para vocês aqui links sobre a hipertensão e cardiopatias na gestação, além do Consenso Brasileiro de Cardiopatia e Gravidez que já foi deixado no post anterior, citado ali em cima.
Até a próxima, pessoal!
Bons estudos (=
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