segunda-feira, 7 de julho de 2014

Você sabe o quanto nossas emoções interferem em nossa saúde cardíaca?

Boa noite, pessoal!

Muito se tem falado sobre a saúde cardíaca, seja na mídia por conta da festividade da Copa do Mundo, seja em nosso cotidiano porque conhecemos pessoas que sofreram "ataque cardíaco", sobretudo relacionando-a com nossas emoções e, não raro ouvimos as frases: "Fulano infartou, cuidado, não deixe que ele passe por fortes emoções!", "Aquele lá infartou porque era muito nervoso, guardava tudo para ele!", "Essa aí não vai ter problema de coração, ela fala tudo o que pensa, não guarda nadinha pra si!". Mas até onde todas as emoções que vivenciamos interfere em nosso coração e em nossa saúde cardiovascular?
Esse tema é bastante amplo e, ao meu ver, bastante interessante também, porque é natural do ser humano sentir raiva, medo, angústia, alegria, surpresa e outras milhares de emoções, assim, recomendar para um paciente ou familiar tomar cuidado com emoções se torna algo estranho e, muitas vezes, inviável. Outro ponto inquestionável é que as emoções são relativas, o que é muito importante e gera uma ansiedade e angústia em você, para mim é algo natural, cotidiano, comum, que provoca uma certa neutralidade em mim - tomando como exemplo o futebol, já que estamos em uma época de jogos importantes e fantásticos, o futebol para mim é algo fantástico, fico taquicárdica diante um gol do meu time, e sinto raiva quando meu time perde, mas para outras pessoas, o futebol não é nada além de um esporte comum, tanto faz o time que marca gol e que ganha o campeonato. 
Além desta relativização dentre as emoções sentidas por cada um, existe o fator "personalidade" que também é algo individual, existem pessoas que são mais explosivas, que 'não levam desaforo para casa', como diziam os antigos. Outras ainda não gostam de falar tudo o que pensam ou tudo o que as incomodam e por isso guardam a raiva, o incômodo para si. Isto é um ponto importante, porque 'guardar para si' ou 'por tudo para fora' pode gerar consequências futuras dentro de um determinado espaço social e cultural da pessoa que venha a desencadear emoções distintas, como vergonha, incômodo, medo e que estas também podem vir a afetar seu sistema cardiovascular. Assim, não basta que pensemos apenas naquele ponto específico da emoções sentida, devemos ver quais outras emoções ela desencadeará para aquela pessoa.
Agora, trazendo para o quesito biológico do tema, as emoções são sentidas e expressadas de maneira bem distinta por homens e mulheres, e isto, nós podemos encontrar em artigos científicos de maneira bem interessante: mulheres sentem-se mais preocupadas ao longo do dia, tal como aponta um estudo feito na Universidade de Brasília (UnB), sobretudo com fatores do cotidianos, como preocupação com o que fazer de almoço. Já os homens, sentem-se mais tensos ao longo do dia e toda esta tensão vem se manifestar à noite. Estes dois fatores possibilitam maior surgimento de arritmias ventriculares nos dois gêneros em períodos distintos do dia. Já eventos, como as arritmias supraventriculares apresentam maior ocorrência no início da manhã, tanto em homens, quanto em mulheres, biologicamente explicado por conta das elevações dos níveis de cortisol neste horário.
Além disso, neste mesmo estudo da UnB, o sentimento de alegria é bastante relatado por mulheres quando estas se mostram na companhia de seus familiares, enquanto que para os homens, este sentimento ocorre quando estão na presença de amigos, mas em nenhum dos casos foi percebida alterações cardíacas, assim, parece que os sentimentos ditos 'positivos' não alteraram o ritmo cardíaco dos pacientes do estudo, enquanto que os sentimentos 'negativos' como ansiedade e preocupação, levaram ao aparecimento das arritmias, exceto o sentimento de tristeza, que não apareceu correlacionado com nenhuma alteração cardiovascular, mesmo sendo considerada 'negativa'.
A influência das emoções na saúde cardiovascular, de início, parece algo bastante filosófico, todavia é fundamental do ponto de vista clínico, isto porque, quando estamos diante de um paciente, para propor, por exemplo, um esquema de tratamento ou prevenção de doenças cardiovasculares, melhora de hábitos de vida, não basta que citemos de maneira clara "cuidado com fortes emoções", devemos primeiramente entender quem é o paciente que está na nossa frente, o que lhe deixa nervoso, ansioso, preocupado, o que lhe angustia, o que ele faz para relaxar, para ficar tranquilo, para tirar o trabalho da cabeça, para esquecer tristezas, para enfrentar os medos. É fundamental estabelecermos um laço de cumplicidade e empatia com nosso paciente, para que este entendimento sobre seus sentimentos torne-se algo natural, algo da convivência e não algo protocolado. Desta maneira, além de contribuirmos com sua saúde cardiovascular vamos explicar e detalhar para cada paciente como são estas 'emoções' ditas 'perigosas' para o seu coração e, não vamos estar meramente jogando aos 7 ventos "cuidado com as emoções" ou "faça tudo para evitar o estresse".


Pensem sobre isso e qualquer dúvida ou sugestão, por favor, fiquem à vontade para escreverem nos comentários!!!

Para estudarem e aprenderem mais sobre o assunto:

REFERÊNCIAS:



O controle da raiva: eficácia do treino cognitivo na doença arterial coronariana


Postado por Mayara Schiavon Rabelo - Coordenadora da Liga de Cardiologia da Unicamp

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