quinta-feira, 31 de julho de 2014

O que a Fórmula 1 pode contribuir com a Cardiologia?


Duas áreas geniais e apaixonantes: Fórmula 1 e Cardiologia. Unem-se pelo interessante e instigante desafio: análise de comportamento de dados.

Expertise sobre a avaliação de 750 milhões de dados em 2 horas de um carro da Fórmula 1 por software e telemetria foi usado para a criação de uma avaliação em tempo real e criação de modelo de predição do comportamento dos parâmetros fisiológicos e variações específicas dos pacientes para detecção precoce de eventos de risco de morte, como as paradas cardíacas.

Essa junção de conhecimentos gerou uma redução de 25% em eventos de risco de morte em uma UTI pediátrica no Birmingham Children's Hospital!

Quer saber mais como um conhecimento de uma área tão distinta pode nos ajudar no nosso dia a dia?
E ainda quem sabe não te desafia a olhar outras áreas em busca de novas soluções para outros problemas da nossa cardiologia!
Assista a esse TEDxNijmegen de Peter van Manen, expertise em Sistemas Eletrônicos e Administrador Executivo da McLaren Electronics:




TED: Peter van Manen: How can Formula 1 racing help ... babies?


Outras notícias sobre o assunto:
BBC News Technology: Formula 1 technology used in hospital
Microsoft.com: Physicians are wielding Big Data to speed research and improve patient care



Até a próxima!
Elayne Oliveira
Presidente da Liga de Cardiologia da UNICAMP

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Agenda: Eventos Científicos no 2º Semestre de 2014. Confira!

Boa noite pessoal!
Conforme havia dito em nossa primeira postagem, estou aqui de volta para publicar os eventos científicos disponíveis na área da Cardiologia para este segundo semestre de 2014, visando informar e divulgar cursos, congressos, simpósios para que o nosso público programe-se para participar daqueles que são mais interessantes e que valem a pena serem conferidos de perto. 

OBS: Desta vez, inclui 2 eventos internacionais!






















Dica: Atenção aos prazos de submissão de trabalhos e/ou inscrições!!!

Até a próxima  :)
Mayara Schiavon Rabelo 
Coordenadora da Liga de Cardiologia da Unicamp

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Cuide do seu coração nesse inverno

          Por muitas décadas, foi observado por especialistas no mundo todo o aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares durante a época mais fria do ano. Uma pesquisa recente em São Paulo mostra que há um aumento de 30% nos casos de morte por infarto do miocárdio na cidade quando as médias diárias de temperatura ficam abaixo de 14ºC.

           E não é apenas com o infarto do miocárdio que devemos nos preocupar com as baixas temperaturas, pois o frio também desencadeia outras doenças cardiovasculares, como acidente vascular cerebral, angina e arritmias cardíacas.

           Para explicar esse efeito foram criadas algumas hipóteses, sendo que uma delas diz que o frio gera uma vasoconstrição, por estimular receptores nervosos da pele a liberarem catecolaminas, e, consequentemente, a um aumento da pressão arterial, que leva a ruptura de placas de gordura das artérias coronárias. Neste processo, há a liberação de proteínas e plaquetas numa tentativa de reverter o quadro, mas que na realidade aumenta a probabilidade de gerar coágulos, responsáveis por bloquear as artérias.  

           Outra hipótese é a que relaciona infecções respiratórias e a temperatura numa reação em cadeia, pois com uma infecção, o nosso organismo fica em estado maior de inflamação e isto piora a inflamação das placas de aterosclerose, propiciando maior chance de haver rupturas e infarto do miocárdio. Essa relação pode ser observada com  a redução na taxa de infarto no inverno quando se vacina contra a gripe no outono.

           Portanto, neste inverno proteja seu coração dos dias mais frios! Use agasalhos, tome bebidas quentes como chá e chocolate quente, mas não se esqueça daqueles que não tem quatro paredes e um teto para se proteger!


Boa noite e bom inverno!

Amanda Caon Morioka



Referências:

No inverno aumento a mortalidade por doença cardiovascular.  Julho 6 2011.  http://www.socesp.org.br/blogdocoracao/2011/07/06/no-inverno-aumento-a-mortalidade-por-doenca-cardiovascular/


Frio aumenta em 30% os casos de infarto, alerta instituto. Fonte:G1
02/07/2008. http://www.sbh.org.br/geral/noticias.asp?id=87




sexta-feira, 18 de julho de 2014

Cansado do tititi do Facebook? Que tal adicionar na sua timeline quem realmente faz ciência?

      A rede social Facebook (FB) se tornou um lugar comum para maioria das pessoas durante seus momentos de tédio, procrastinação ou até mesmo puro vício ("deixa eu dar uma olhadinha se tem algo novo..").
       No entanto, muitos não sabem que o FB pode ser uma ferramenta muito útil na atualização médica! Não.. não estou dizendo sobre o tititi compartilhado aos montes nas nossas timelines! Estou falando de fontes que realmente fazem ciência!
      Vou mostrar alguns benefícios de seguir algumas das páginas: 

1- Se você estivesse seguindo a página da New England Journal of Medicine, você teria visto ontem sobre a nova publicação HPS2-THRIVE sobre os resultados ainda mais desanimadores sobre a falta de benefício clínico da associação a estatina de Niacina e Laropipranto e aumento de eventos adversos. E se você ainda não tivesse a par da retirada em janeiro da niacina do mercado, dê uma olhada:

    E hoje, a página ainda ia te lembrar sobre a publicação de uma letter sobre os resultados do AIM-HIGH de 2011 e do HPS2-THRIVE sobre essa questão dos eventos apresentados pela niacina: 

  2 - Seguindo a página da American College of Cardiology, você terá na sua timeline notícias de publicações associadas a ACC, como essa da JACC sobre a metanálise a respeito de Consumo de Álcool e o risco de Fibrilação Atrial:

  Como também de casos clínicos para treinar seu raciocínio diagnóstico:

4- Outra excelente página que também sempre publica casos clínicos é a Circulation, em que após alguns dias da publicação do ECG Challenge, ela publica a resolução de forma bem didática de como deve ser o passo a passo da leitura e raciocínio do caso. Além claro de publicar sobre os novos artigos de cada uma de suas edições:

5- Você pode seguir também diretamente a JACC e ter na sua timeline notícias recém publicadas como essa sobre remodelamento ventricular na hipertensão pulmonar:

6- A JAMA é outra da lista, apesar da abordagem mais clínica geral, apresenta sempre algo interessante da doenças mais comuns e sempre claro se volta para as doenças cardiovasculares! Inclusive, se você estivesse acompanhando, já saberia sobre a edição especial que haverá de doenças cardiovasculares e está aberta a submissão para papers! E como coincide com a American Heart Association Scientific Session, ainda nos lembra de ver o deadline de submissão desse evento!

7- Falando na American Heart Association (AHA), sua página é muito interessante para ver as novas campanhas que eles estão realizando com a sociedade e é um bom local para verificar materiais de conscientização da sua timeline, como essa aqui:

8- Ainda há a European Society of Cardiology, que além de publicar seus eventos, publica também oportunidades como essa:

9- E não podemos esquecer as brasileiras! Temos também a página da Sociedade Brasileira de Cardiologia:

10 - A página da SOCESP, sempre com vários eventos nas suas regionais:

11 - Temos também de blogs como o EchoTalk Ecocardiografia, do prof. José Roberto da UNICAMP:

12 - Claro, e da nossa Liga de Cardiologia da UNICAMP! Sempre colocando as publicações do blog e outras publicações importantes!

13 - E você ainda pode procurar por subgrupos dessas páginas principais, como a NEJM Physician's First Watch, que comenta sobre várias publicações não só da NEJM, como também sobre acontecimentos importantes na área da saúde. Por exemplo, você sabia dessa aqui?


E deixa eu dar uma outra olhadinha para ver se tem mais alguma coisa nova...


E lembrem que muitas vezes as páginas que vocês curtem terão as publicações separadas no Feed de Páginas!

Gostaram das sugestões? 
E você curte alguma página de ciência também interessante?

Até a próxima,

Elayne Oliveira
Presidente da Liga de Cardiologia da UNICAMP



segunda-feira, 14 de julho de 2014

Como diferenciar angina pectoris de outras “dores no peito”?


A angina pectoris é definida como a dor no peito atribuída à isquemia e ao sofrimento do miocárdio, ou seja, diminuição do fluxo sanguíneo para o músculo cardíaco. Usualmente, a angina é geralmente citada pelos pacientes como “desconforto”, “aperto”, “pressão”, “queimação” e “peso no peito”. Localiza-se no meio do peito ou no lado esquerdo dele, podendo irradiar. A irradiação da angina pode ser para a região epigástrica, ombros, braços, punho, dedos, pescoço, garganta, mandíbula e até mesmo os dentes e costas (especialmente região interescapular).
A angina é geralmente difusa, ou seja, pode ser difícil de localizar. Assim, o paciente usualmente indica todo o peito quando perguntado o local da dor/desconforto. Se a dor é localizada em uma área pequena é provavelmente de origem da parede torácica como a musculatura ou de origem pleural. Outros sintomas podem estar associados à angina, como dispneia, náusea, indigestão, eructação, sudorese, tontura, vertigem e fadiga. Esses variam de paciente para paciente.
A angina também é geralmente de início gradual, com a intensidade variando ao longo de vários minutos. As dores não-cardíacas, no entanto, geralmente são de grande intensidade já quando começam e geralmente têm começo e fim abrupto. Outras características que a distingue de outras dores no peito são o fato de a angina não se alterar com mudanças na respiração e também não ser provocada ou não piorar de intensidade à palpação. A gravidade, duração e tipo de angina podem variar e alguns sintomas podem indicar a angina instável, a forma mais perigosa de angina, conhecido como “ataque cardíaco”.
Tipos de angina:
Angina estável: acontece durante exercício, dura pouco tempo (menos de 5min), desaparece assim que o paciente descansa ou toma medicação para angina.
Angina instável (emergência): ocorre até mesmo no repouso, inesperada, mais grave e de maior duração, podendo durar até 30min, pode não desaparecer quando o paciente descansa ou toma medicação para angina. Pode indicar um ataque cardíaco.

Nas mulheres, a angina pode ter características diferentes das citadas anteriormente aqui, que ocorrem principalmente em homens. Nelas, geralmente há muito mais náusea, dispneia, dor abdominal ou fatiga extrema, até mesmo sem que haja dor no peito.

Em resumo, algumas características das dores no peito que geralmente não são indicativos de doença cardíaca:
·         Dor que se relaciona aos movimentos respiratórios e à tosse (dor pleural);
·         Localização primária na região abdominal mais inferior;
·         Desconfortos que são facilmente “apontados” pelo paciente (dor que não é difusa);
·         Desconforto que seja precipitado ou aumentado com movimentação ou palpação do local;
·         Dor constante com duração de dias;
·         Dores fugazes que duram alguns segundos;
·         Dor irradiada para membros inferiores ou para a região superior da mandíbula.

       É muito importante saber diferenciar a angina pectoris de outras dores no peito e fazer o diagnóstico rápido quando se trata de angina instável, já que esta tem altos índices de mortalidade. Espero  que este post tenha ajudado. Para quem se interessar, há um link e alguns artigos que tratam do assunto nas referências. 
      

Obrigada e até a próxima!
Liga de Cardiologia da Unicamp

Referências
MayoClinic: http://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/angina/basics/definition/con-20031194?footprints=mine
Constant J. The clinical diagnosis of nonanginal chest pain: the differentiation of angina from nonanginal chest pain by history. Clin Cardiol. 1983 Jan;6(1):11-6.

Panju AA, Hemmelgarn BR, Guyatt GH, Simel DL. The rational clinical examination. Is this patient having a myocardial infarction? JAMA. 1998 Oct 14;280(14):1256-63.


Lee TH, Cook EF, Weisberg M, Sargent RK, Wilson C, Goldman L. Acute chest pain in the emergency room. Identification and examination of low-risk patients. Arch Intern Med. 1985 Jan;145(1):65-9.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Hábitos cotidianos podem ajudar o coração?

  Atualmente, percebemos um aumento significativo de pessoas sedentárias no mundo. E esse sedentarismo não corresponde apenas à falta de exercício por si só, mas também por mudanças de pequenos hábitos do dia a dia que podem influenciar na saúde a longo prazo.
  Antigamente, era comum que as pessoas fossem trabalhar a pé, que percorressem uma boa distância para chegar onde queriam. Andar de carro era um 'privilégio' que poucos possuíam. Mas e hoje? Podemos ver que há muitas pessoas que, se pudessem, parariam o carro dentro da sala de onde elas precisam estar, só pelo fato de andar menos.
  Esses pequenos hábitos podem ajudar muito a melhorar a função cardíaca, ainda mais para pessoas que têm pouco tempo para desenvolver uma atividade física diária. Mas quais pequenos hábitos podem ser mudados para combater o sedentarismo?
  Dentre muitos, podemos citar alguns muito comuns, como por exemplo: estacionar o carro um pouco mais longe do local de destino para caminhar mais, ou até mesmo ir a pé se o destino não for muito longe; em vez de subir os andares de um prédio de elevador, podemos subi-los de escadas, desde que não tenhamos problemas articulares; também podemos usar outros meios de transporte, como as bicicletas, para irmos a alguns lugares.
  Essas são pequenas atitudes que melhoram sua saúde. Mesmo que a prática de atividade física não seja intencional, o aumento da atividade metabólica do organismo estimula o músculo cardíaco a trabalhar com maior intensidade e, a longo prazo, seu coração estará mais apto a bombear sangue com eficácia para o corpo.
  Não deixe para fazer amanhã o que você pode mudar hoje,ainda mais quando se trata da sua saúde. Mude pequenos hábitos, e vai perceber uma grande diferença.
 
  Leitura Recomendada

  1- Livro 'Fisiologia do Esporte e do Exercício' W. Larry Kenney et al.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Você sabe o quanto nossas emoções interferem em nossa saúde cardíaca?

Boa noite, pessoal!

Muito se tem falado sobre a saúde cardíaca, seja na mídia por conta da festividade da Copa do Mundo, seja em nosso cotidiano porque conhecemos pessoas que sofreram "ataque cardíaco", sobretudo relacionando-a com nossas emoções e, não raro ouvimos as frases: "Fulano infartou, cuidado, não deixe que ele passe por fortes emoções!", "Aquele lá infartou porque era muito nervoso, guardava tudo para ele!", "Essa aí não vai ter problema de coração, ela fala tudo o que pensa, não guarda nadinha pra si!". Mas até onde todas as emoções que vivenciamos interfere em nosso coração e em nossa saúde cardiovascular?
Esse tema é bastante amplo e, ao meu ver, bastante interessante também, porque é natural do ser humano sentir raiva, medo, angústia, alegria, surpresa e outras milhares de emoções, assim, recomendar para um paciente ou familiar tomar cuidado com emoções se torna algo estranho e, muitas vezes, inviável. Outro ponto inquestionável é que as emoções são relativas, o que é muito importante e gera uma ansiedade e angústia em você, para mim é algo natural, cotidiano, comum, que provoca uma certa neutralidade em mim - tomando como exemplo o futebol, já que estamos em uma época de jogos importantes e fantásticos, o futebol para mim é algo fantástico, fico taquicárdica diante um gol do meu time, e sinto raiva quando meu time perde, mas para outras pessoas, o futebol não é nada além de um esporte comum, tanto faz o time que marca gol e que ganha o campeonato. 
Além desta relativização dentre as emoções sentidas por cada um, existe o fator "personalidade" que também é algo individual, existem pessoas que são mais explosivas, que 'não levam desaforo para casa', como diziam os antigos. Outras ainda não gostam de falar tudo o que pensam ou tudo o que as incomodam e por isso guardam a raiva, o incômodo para si. Isto é um ponto importante, porque 'guardar para si' ou 'por tudo para fora' pode gerar consequências futuras dentro de um determinado espaço social e cultural da pessoa que venha a desencadear emoções distintas, como vergonha, incômodo, medo e que estas também podem vir a afetar seu sistema cardiovascular. Assim, não basta que pensemos apenas naquele ponto específico da emoções sentida, devemos ver quais outras emoções ela desencadeará para aquela pessoa.
Agora, trazendo para o quesito biológico do tema, as emoções são sentidas e expressadas de maneira bem distinta por homens e mulheres, e isto, nós podemos encontrar em artigos científicos de maneira bem interessante: mulheres sentem-se mais preocupadas ao longo do dia, tal como aponta um estudo feito na Universidade de Brasília (UnB), sobretudo com fatores do cotidianos, como preocupação com o que fazer de almoço. Já os homens, sentem-se mais tensos ao longo do dia e toda esta tensão vem se manifestar à noite. Estes dois fatores possibilitam maior surgimento de arritmias ventriculares nos dois gêneros em períodos distintos do dia. Já eventos, como as arritmias supraventriculares apresentam maior ocorrência no início da manhã, tanto em homens, quanto em mulheres, biologicamente explicado por conta das elevações dos níveis de cortisol neste horário.
Além disso, neste mesmo estudo da UnB, o sentimento de alegria é bastante relatado por mulheres quando estas se mostram na companhia de seus familiares, enquanto que para os homens, este sentimento ocorre quando estão na presença de amigos, mas em nenhum dos casos foi percebida alterações cardíacas, assim, parece que os sentimentos ditos 'positivos' não alteraram o ritmo cardíaco dos pacientes do estudo, enquanto que os sentimentos 'negativos' como ansiedade e preocupação, levaram ao aparecimento das arritmias, exceto o sentimento de tristeza, que não apareceu correlacionado com nenhuma alteração cardiovascular, mesmo sendo considerada 'negativa'.
A influência das emoções na saúde cardiovascular, de início, parece algo bastante filosófico, todavia é fundamental do ponto de vista clínico, isto porque, quando estamos diante de um paciente, para propor, por exemplo, um esquema de tratamento ou prevenção de doenças cardiovasculares, melhora de hábitos de vida, não basta que citemos de maneira clara "cuidado com fortes emoções", devemos primeiramente entender quem é o paciente que está na nossa frente, o que lhe deixa nervoso, ansioso, preocupado, o que lhe angustia, o que ele faz para relaxar, para ficar tranquilo, para tirar o trabalho da cabeça, para esquecer tristezas, para enfrentar os medos. É fundamental estabelecermos um laço de cumplicidade e empatia com nosso paciente, para que este entendimento sobre seus sentimentos torne-se algo natural, algo da convivência e não algo protocolado. Desta maneira, além de contribuirmos com sua saúde cardiovascular vamos explicar e detalhar para cada paciente como são estas 'emoções' ditas 'perigosas' para o seu coração e, não vamos estar meramente jogando aos 7 ventos "cuidado com as emoções" ou "faça tudo para evitar o estresse".


Pensem sobre isso e qualquer dúvida ou sugestão, por favor, fiquem à vontade para escreverem nos comentários!!!

Para estudarem e aprenderem mais sobre o assunto:

REFERÊNCIAS:



O controle da raiva: eficácia do treino cognitivo na doença arterial coronariana


Postado por Mayara Schiavon Rabelo - Coordenadora da Liga de Cardiologia da Unicamp

quinta-feira, 3 de julho de 2014

"Infartei.. e o sexo, doutora, pode quando?"

       Quando realizei uma pesquisa com pacientes pré-revascularização do miocárdio em que um dos itens avaliados era o Inventário de Depressão de Beck (BDI), chegava ao fatídico trecho em que eles tinham que escolher entre os itens:
0 Não notei qualquer mudança recente no meu interesse por sexo 
1 Estou menos interessado por sexo do que costumava 
2 Estou muito menos interessado por sexo agora 
3 Perdi completamente o interesse por sexo
       Eu já esperava... "ohh.. "doutora".. então.. eu vou poder quando.. sabe.. fazer essas coisas??" 
       E sempre retornava com aquela resposta de estudante "o sr. tem que conversar com o seu médico a respeito dessas orientações e ele vai te explicar direitinho"
       No entanto, muitas vezes em que eu retornava para reaplicar o BDI e outros testes próximos a alta do paciente, voltava a bendita pergunta! 
       Percebi que esse assunto era um tabu tanto para o paciente, que muitas vezes não se sente a vontade para perguntar, sendo algo mais difícil ainda para as mulheres, como também dos profissionais de saúde que se sentem acanhados de orientar e dar espaço para certas dúvidas.. e dúvidas essas muito importantes, afinal fazem parte da qualidade de vida do paciente. 

        Essa questão é tão importante que a American Heart Association (AHA) junto com outras 8 Sociedades de Cirurgia, de Reabilitação, de Urologia e de outras ligadas a Cardiologia lançaram em 2012 um Scientific Statment sobre a Atividade Sexual e Doença Cardiovasculares para servir de referência de orientação para os profissionais de saúde. E é com base nela e em uma publicação da Mayo Clinic Health Letter intitulada Sex After Heart Attack - Far From Mutually Exclusive, que vou ressaltar alguns pontos sobre o assunto no caso de infarto do miocárdio para vocês!

     Primeiro devemos saber de alguns dados:
- A pressão arterial (PA) e a frequência cardíaca (FC) possuem valores similares entre os homens e mulheres durante o ato sexual e aumentam moderamente durante as preliminares e possuem seu maior aumento durante os 10 a 15 segundos após o orgasmo e rapidamente voltam ao normal.
       - Em pacientes não-hipertensos, a FC raramente excede 130 bpm e a pressão arterial sistólica raramente excede 170 mmHg.
- Adultos jovens a idosos: a atividade sexual tem uma demanda física similar a subir dois lances de escada ou caminhar rapidamente (3 a 4 METS). Aqueles com doença cardiovascular, a demanda física deve ser maior que isso, mas há uma falta de estudos para determinar o valor aproximado.
- Mortes súbitas durante o sexo têm um frequência muito baixa, entre 0,7 a 1,7%, e não possuem uma diferença grande de incidência entre os infartados em comparação com os não infartados.
        - E sabe qual era a característica da maioria desses que morreram dos 0,7 a 1,7%?? Homens e 75% deles estavam em atividades sexuais extraconjugais.

     E devemos lembrar sempre que cada paciente é um caso único e deve ser sempre discutido com o médico responsável. Mas há algumas considerações que podem basear essa discussão:
- Se o paciente necessitou de uma angioplastia e implantação de stent para reestabelecer o fluxo coronário após o infarto, o retorno a atividade sexual deve esperar alguns dias, suficientes para a cicatrização do local da introdução do cateter do procedimento;
- Se precisou passar por uma cirurgia de revascularização do miocárdio ("cirurgia de pontes de safena"): as atividades sexuais não são recomendadas por 6 a 8 semanas, tempo médio de cicatrização do esterno (osso na linha média do tórax que é aberto para ter acesso ao coração). E ainda devem ser evitadas, após esse período, posições sexuais que submetam o tórax a muito estresse/peso;
- Há duas situações em que atividades sexuais não são recomendadas após o infarto: quando há arritmias não controladas ainda e/ou quando há sintomas que a insuficiência cardíaca está piorando;
- Após o infarto, as medicações devem estar balanceadas, otimizadas e sendo usadas com rigor e deve-se atentar para alguns fatores:
         - Em alguns casos, as medicações para o tratamento de pressão alta e insuficiência cardíaca podem diminuir a pressão arterial mais do que o necessário e o paciente sentir durante a relação tontura, sensação de cabeça e até mesmo desmaiar;
           - Uma medicação que deve ser prescrita e utilizada com extremo cuidado é o Sidenafil (Viagra) e outras para disfunção erétil, pois, além da possibilidade de promover hipotensão, NÃO PODE SER ASSOCIADO com NITRATO! Isso é algo que deve sempre ser indagado ao paciente!

       Para facilitar, enumero as recomendações gerais da AHA sobre as atividades sexuais para paciente com doença cardiovascular (DCV) (Levine et al, 2012) [para as determinações do nível de evidência, acesse o link do artigo ao final do post]:
1. Mulheres com DCV devem ser orientadas em relação a segurança e conveniência de métodos contraceptivos e da gravidez, quando apropriado (Classe I, nível de evidência C);
2. É recomendável que os pacientes com DCV desejando iniciar ou voltar as atividades sexuais sejam avaliados pela história médica e exame físico (Classe IIa, nível de evidência C);
3. Atividade sexual é recomendável para pacientes com DCV que, na avaliação clínica, são classificados como de baixo risco para complicações cardiovasculares (Classe IIa, nível de evidência B);
4. Testes de esforço é recomendável para pacientes que não são de baixo risco cardiovascular ou que não se sabe o nível de risco para quantificar a capacidade de exercício e desenvolvimento de sintomas, isquemias ou arritmias (Classe IIa, nível de evidência C);
5. Relações sexuais são permitidas para pacientes que podem realizar esforço físico igual ou acima de 3 a 5 METS sem angina, dispneia acentuada, mudanças isquemicas do segmento ST, cianose, hipotensão ou arritmias (Classe IIa, nível de evidência C);
6. Reabilitação cardíaca e exercício regular podem ser úteis na redução do risco de complicações cardiovasculares na realização de atividades sexuais em pacientes com DCV (Classe IIa, nível de evidência B);
7. Pacientes com DCV instável, descompensada e/ou sintomáticos graves devem adiar o retorno das atividades sexuais até que sua condição seja estabilizada e seu tratamento otimizado (Classe III, nível de evidência C);
8. Pacientes com DCV que apresentaram sintomas cardiovasculares desencadeados pelo ato sexual devem adiar o retorno das atividades sexuais até que sua condição seja estabilizada e seu tratamento otimizado (Classe III, nível de evidência C).

     Portanto, a atividade sexual deve ser sempre lembrada nas orientações de alta dos pacientes pós infarto do miocárdio, permitindo uma atmosfera acolhedora ao paciente tanto do sexo masculino, como do sexo feminino para que sanem todas suas dúvidas a respeito do assunto! E lembrem sempre, além das recomendações levantadas nesse post, de recomendar ao paciente de não associar ingesta de álcool e de pesadas refeições antes do ato sexual, de ressaltar que atividades sexuais muito diferentes do habitual e extraconjugais o expõe a um estresse perigoso a sua condição cardiovascular e do risco do uso de medicações para disfunção sexual sem prescrição médica podem aumentar o risco de novos eventos cardiovasculares!

E como é no seu serviço? Há um protocolo de orientação sobre a relação sexual após o infarto??

Até o próximo,

Elayne Oliveira
Presidente da Liga de Cardiologia da UNICAMP

Referências:
Sex after heart attack. Far from mutually exclusive. Mayo Clin Health Lett. 2013 Apr;31(4):7.